quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

letras de outrora, retratos de uma construção humana...

O tempo fragmenta-se num desejo e a alma flameja a ilusão de que vem mais tempo. 
De que há mais do que a noite nos dá. 
Que ainda vem o dia.
A ânsia de vencer prevalece sobre a ingenuidade, 
e não há nada mais do que isso. 
Não há nada mais que uma conquista,
do que uma experiência que nos corrói o sangue, como sal em gelo puro.

Não há nada mais do que palavras que a noite nos dá.
E o dia leva-as, o sol apaga-as, a memória distorce-as.
E a racionalidade evita-as, como se evitam abismos e fundos que nos condicionam.

Do dia só o odor permanece,
os ponteiros seguem a sua rotina sem contestar,
resignando-se à sua função.
E com ele, resigno-me também eu.
Mais frio a cada dia que passa,
sem sequer tocar no gelo.
Como um paradoxo que não me move;
que não me tira do que sou no meu todo.
Num lodo que em vezes enoja o caminho,
pelo qual caminho e por vezes nem sinto.
Mas por vezes pressinto
e até por vezes,
projeto o que não sou.

Então afastem-se as ilusões e que vigore a apatia,
que se afaste a felicidade, mas que se mantenha a racionalidade.
Que se afastem os sorrisos, que se afastem os aromas, que se afaste o som.
Que a vida me dê aquilo pelo que luto, e não aquilo que o céu faz cair,
como se nada pedisse em troca.





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